Debate – Socialismo Selvagem, em Faro: mais um tema importante que foi discutido no âmbito do ciclo de debates do Comité Custódio Losa MD.


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O debate promovido na véspera do 25 de Abril, em Faro, pelo Comité Custódio Losa MD, sobre o socialismo selvagens, as ocupações e as lutas climáticas e como estas se relacionavam com datas como o maio de 68 em Paris e o 25 de Abril em Portugal, juntou cerca de 20 pessoas e teve alguns momento tensos de discussão.

O primeiro a falar foi um estudante de Faro que integra o movimento de Ocupação das Escolas/Greves climáticas que explicou alguns dos projetos imediatos entre os quais a preparação da ação contra a utilização do gás fóssil, responsável direto pelas alterações climáticas que vivemos marcada já para o terminal de Sines e que terá lugar a 13 de maio. Disse também que estava em preparação a ocupação de uma escola secundária na capital algarvia.

Usou depois a palavra, Jorge Valadas, colaborador do jornal MAPA e antigo exilado político em França, convidado pela organização e autor do livro “O Socialismo selvagem” (Antigona, 2021), que pegou por aí para dizer que as lutas do presente/ futuro serão sobre a água e a destruição dos recursos comuns. Falou da enorme manifestação de há um mês em França, em Sainte-Soline, contra a apropriação da água pelos grandes grupos da agro industria, numa zona húmida e de biodiversidade, onde estão a construir uma pequenas barragens drenando essas zonas húmidas e destruindo-as. Acrescentou para dizer que as lutas contra a destruição do planeta pela logica produtivista do capitalismo vão ser o centro da oposição com os defensores deste sistema. Elas estão a ser cada vez mais criminalizadas e  reprimidas ferozmente. Para continuar a produzir lucro mantendo as condições de vida do humano eles estão prontos  até  a matar. Os jovens que se implicam corajosamente nas lutas devem disto estar conscientes. Mesmo se na região portuguesa tudo esteja ainda a começar é preciso estar lúcido e saber o que se quer.

Essa manifestação reuniu 30 mil pessoas e foi brutalmente reprimida pela polícia , com dezenas de feridos, entre os quais dois feridos muito graves, em risco de vida e outro em coma em situação crítica. A este propósito foi distribuído na sala um comunicado dos pais de Serge, um dos jovens que ficou mais gravemente ferido e que ainda está em coma.

Neste momento verificou-se alguma tensão, com um dos presente a cortar a palavra ao orador, acusando-o de ter um discurso extremista contra a polícia e saiu da sala.

Logo a seguir começa a falar uma outra pessoa, já mais velha a dizer que percebia perfeitamente a intervenção anterior e que tinha vindo a este debate por engano. Disse, no entanto, que tinha gostado da intervenção do estudante da greve climática, mas para estes terem cuidado com as ideias que ali estavam a ser defendidas. Que o protesto era legítimo, mas não as ocupações. O que mostra bem a necessidade deste tipo de debates, uma vez que a ocupação de escolas e espaços públicos, ou ações deste tipo, existem não para a destruição dos bens ocupados – como tanta vez os políticos e a policia querem fazer crer -, mas para darem visibilidade aos movimentos e causas que se defendem.

Falou-se também da luta para Salvar as Alagoas Brancas, em Lagoa, contra os interesses económicos do Capital e dos poderes públicos, de que são exemplo a Câmara Municipal, CCDRAlgarve e os ministérios envolvidos.

A luta contra o betão armado, a turistificação excessiva, a destruição do meio ambiente, as culturas que promovem o fim das reservas de água, como é o caso dos abacates ou dos campos de golfe espalhados pela região, foram também aflorados neste debate que constituiu mais um alerta contra as muitas atividades predadoras que há anos espoliam o Algarve dos seus melhores recursos – e contra as quais há que organizar a resistência e um combate sem tréguas.