Olá, fruta fresca!


Como prometido, o bar dxs sócixs está meio de molho – é o calor, são as viagens de férias e os trabalhos de Verão, mais a moleza e a vontade de ir a banhos, combinados com o bem que sabemos que faz, de vez em quando, tomar distância de tudo o que se tornou familiar. Por tudo isso, no Verão, é mais difícil garantir a presença de turnistas para manter a cena a rolar. Mas está tudo bem (ahem, dentro da distopia tecnológico-capitalista-extractivista que já se sabe), o que tem de continuar continua, e já temos data de regresso do bar: 8 de Setembro, festa de reabertura. Até lá, se surgirem actividades abertas a sócixs, avisamos. Caso contrário, esta newsletter regressa em Setembro!

Antes de irmos:

Solidarizámo-nos publicamente com o espaço ocupado Squat L38, uma okupa com 32 anos de existência na periferia de Roma que está agora em risco de despejo devido ao plano de reabilitação da cidade, assente num modelo que (n)os despreza. Escrevemos um textinho, que lhes enviámos, assim como uma mensagem a explicar que também a Sirigaita estava em risco de despejo, e a perguntar como podíamos ajudar, ao que elxs responderam:

Continuare a lottare e resistere, non importa dove, è il massimo della solidarietà! Vi siamo vicini e vicine, tenete duro!

(Continuar a lutar e a resistir, não importa onde, é a maior forma de solidariedade! Estamos convosco, mantenham-se fortes!)

É esse o plano!

O L38 está a enfrentar um despejo iminente e tem sido um produtor crucial de novos bens comuns urbanos há mais de 30 anos, preenchendo o vazio deixado pelas instituições ausentes. O ataque não é apenas contra xs militantes, mas também contra toda a comunidade que utilizou ou beneficiou do espaço.

O L38 tem desempenhado um papel significativo como centro de militância, contracultura e autogestão numa zona periférica de Roma com serviços limitados. O processo de reabilitação em curso no bairro visa desmantelar as comunidades autogeridas e dar prioridade aos interesses financeiros em detrimento do bem-estar da comunidade.

Estas tentativas de deslocar e apagar as comunidades autogeridas reflectem uma tendência mais ampla de projectos radicais de reabilitação e especulação, a que também assistimos em Lisboa. O impacto nos bairros afectados, onde os residentes se debatem com condições de vida difíceis e com o isolamento, é profundamente preocupante.

Perante estes desafios, apelamos ao apoio e à solidariedade para com o Squat L38. Ao unirmos forças e erguermos as nossas vozes, podemos opor-nos a despejos injustos e ao apagamento de preciosos bens comuns urbanos.

Apesar dos desafios e das dinâmicas de poder desiguais, o apelo à luta e à resistência está feito. A participação unida e a determinação inabalável podem abrir caminho para um futuro melhor, não só para a Sirigaita e o Squat L38, mas para todos os espaços e comunidades autónomas que enfrentam ameaças semelhantes.

Aproveitamos o tremendamente inoportuno convite do Festival de Almada à companhia de dança israelita Batsheva para relembrar um par de coisas:

A Sirigaita é um ELA (espaço livre de apartheid israelita) desde 2019. Não é difícil ser-se um ELA, é só não colaborar com a ocupação e o apartheid israelitas em todas as suas formas, por exemplo, não convidando grupos financiados pelo estado de Israel para espalhar a ideia de um estado “normal” e “progressista” pelo mundo. E traz muitas alegrias, como a de não acolher a companhia de dança israelita Batsheva no mesmo mês em que o @thefreedomtheatre de Jenin foi bombardeado pelo exército israelita.

Qualquer espaço pode tornar-se um ELA: um restaurante (@TascaMastai), uma livraria (@livrariatigredepapel), uma mercearia, uma biblioteca, uma universidade, um bar – afirmar-se ELA é responder ao apelo de solidariedade que, no fim da segunda intifada, partiu de mais de 200 organizações e colectivos palestinianos como estratégia contra a ocupação. Um “não passarão” em todas as esferas: política, económica, cultural, académica, desportiva, um #nãoestãosozinhas em todo o lado.

A propósito da vinda da Batsheva a Portugal, o MPPM (Movimento pelos direitos do povo palestino e pela paz no Médio Oriente) escreveu este comunicado, que merece ser partilhado e portanto aqui vai também.

Deixamos ainda um outro apelo à vossa solidariedade:

Nesta sexta feira, 14 de julho, terá lugar a sessão das alegações finais do julgamento de Mamadou Ba. Por incrível que pareça, a 27 de outubro de 2022, um juiz português decidiu gastar energia e recursos públicos num processo para defender a honra de um neonazi, dando seguimento a uma queixa de difamação e calúnia contra Mamadou Ba apresentada por Mário Machado. Isto porque Mamadou Ba referiu-se ao supremacista branco, comprovadamente uma das figuras centrais do assassinato de Alcindo Monteiro, como “assassino”. Nas palavras da SOS Racismo/ Em Carne e Osso:

“Este processo não julga apenas um antirracista: põe no banco dos réus todo o movimento antirracista, ameaça movimentos sociais, violenta a democracia. 

Mário Machado sabe que não esquecemos nem perdoamos os seus crimes.

Mamadou Ba sabe que nos terá a seu lado no combate antifascista e antirracista. E, dia 14, lá estaremos de novo.

TODXS AO TRIBUNAL dia 14, sexta feira, às 14h
Campus da Justiça, edifício B, 2º Juízo”

Nem tudo pára no Verão, mas se quiseres checar se alguma destas actividades está mesmo on, tens aí os contactos dos colectivos todos. Se não tens redes sociais (chapeau!), nós podemos facilitar essa comunicação, escreve-nos!

A Sirigaita é um espaço auto-gerido, militante e aberto para e por pessoas associadas. Promove manifestações culturais sem olhar ao lucro, alberga e possibilita a acção de diversos colectivos e grupos. Queres-te juntar à festa? Fazer um turno no bar dxs sócixs? Estamos sempre a precisar!

Escreve-nos: sirigaitalisboa@gmail.com