Dessalinização da água do mar: uma solução para a escassez de água?


Descomplicador: Portugal e o stress hídrico

Nalgumas regiões do globo, a escassez de água é já um problema de extrema gravidade, trazendo consequências sérias para a saúde pública que afetam sobretudo as camadas mais empobrecidas da sociedade. Uma realidade que o aquecimento global virá certamente agravar. Portugal é o 41.º país do mundo com mais stress hídrico, ou seja, as necessidades de consumo de água são superiores à quantidade de água disponível em território português. As regiões do Algarve e Alentejo são as que mais sofrem com esta questão. Muitos apontam para a dessalinização da água do mar como uma solução para este problema. Mas será mesmo uma solução viável? Eis a sua resposta, descomplicada.

 

O que é a dessalinização?

A dessalinização é o processo que elimina os sais minerais dissolvidos na água, transformando a água salgada em água própria para consumo humano ou para uso agrícola. Atualmente dispomos de várias tecnologias de dessalinização baseadas em dois processos: a dessalinização térmica e a dessalinização por membrana. Este último processo é o mais comum, sendo a osmose inversa a tecnologia mais utilizada.  A osmose inversa é um processo de filtragem em que a água é sujeita a alta pressão, através de uma membrana, que retém até 95 por cento das partículas de sal e 99 por cento das impurezas. Na dessalinização térmica, o sal e a água são separados através de vários ciclos de evaporação. Em ambos os processos, a água dessalinizada é ainda sujeita a tratamentos de desinfecção e remineralização.

 

Há exemplos de utilização desta tecnologia?

Existem já cerca de 15 mil centrais dessalinizadoras, espalhadas por 150 países, que produzem cerca de 86 milhões de metros cúbicos de água por dia e abastecem cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Cerca de 48% de toda a água dessalinizada é produzida no Médio Oriente e no Norte de África, uma vez que estas são regiões com poucos recursos hídricos. Em Portugal, temos o exemplo da ilha de Porto Santo, na Madeira, cuja central dessalinizadora funciona há mais de 40 anos, solucionando o problema de falta de água potável na ilha. Está ainda em fase de projeto uma central dessalinizadora no Algarve, estando prevista a sua construção no concelho de Albufeira, e cuja água será destinada ao consumo humano.  Além disso, o âmbito do Plano Regional de Eficiência Hídrica do Alentejo prevê a construção de mais duas novas centrais, uma na região do Mira, para produção de água destinada ao uso agrícola, e outra, em Sines, para uso industrial.

 

Devemos investir na dessalinização?

Se então temos ao nosso dispor esta técnica, capaz de abastecer um vasto número de pessoas, porque não utilizá-la em todas as frentes de combate à escassez hídrica? Na verdade, a dessalinização não deve ser vista como um recurso viável, por diversas razões. Em primeiro lugar, tem elevados consumos energéticos, sendo que apenas 1% de toda a água dessalinizada no mundo foi adquirida através do uso de energias renováveis. Além disso, o custo da água dessalinizada é muito elevado, sendo quase dez vezes mais cara, devido à energia gasta para a produzir.

Especialmente problemático é ainda o fato da salmoura resultante deste processo, ou seja, a água que não foi filtrada para água potável, ter um elevado teor de sal e produtos químicos, adicionados durante o processo de dessalinização. Ou seja, esta água, que é normalmente devolvida ao meio marinho, acaba por destruir a sua biodiversidade, já ela própria afetada pela tomada de água para a central dessalinizadora que acaba por absorver vários organismos marinhos.

 

 

A ZERO defende que:

A dessalinização deve ser encarada como uma solução de último recurso para fazer face a situações de escassez hídrica, uma vez que as suas consequências são nefastas para o ambiente.

 

Em vez disso devemos:

  • Aumentar a eficiência na utilização agrícola da água, já que este é o setor que mais água consome em Portugal, ultrapassando os 70% de toda a água que é consumida no nosso país.
  • Aumentar a eficiência no setor urbano através de investimento nas redes de abastecimento para redução das perdas de água. Anualmente em Portugal perde-se, em média, 30% de todas a água que entra nos sistemas de abastecimento público.
  • Apostar na reutilização de água residual tratada para usos não potáveis.
  • Reduzir substancialmente o nosso consumo de água. Cada português consome em média 190 litros de água por dia, sendo que, segundo a Organização Mundial de Saúde, cada pessoa apenas necessita entre 50 a 100 litros de água para fazer face às suas necessidades básicas diárias.

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