«O beijo, amigo, é a véspera do escarro»


[Interrompemos por agora a programação da aberta. A livraria mantém o seu horário até sábado 12 de agosto: das 10h às 13h30 e das 14h30 às 19h. Na semana de 14 a 22 de agosto, estamos fechados. De quarta 23 de agosto a quarta 13 de setembro, funcionamos apenas no período da tarde: das 14h30 às 19h. Quinta-feira 14 de setembro, voltamos ao horário completo.

Decidi usar a pausa para escrever sobre poetas. Se, por um lado, não raro me pedem sugestões de livros que adorei, ouço muito, por outro lado, que não são «leitores de poesia». Nestas minhas três próximas cartas, quero falar-vos da poesia que me tem salvado e de livros que me fazem fotografar muitas páginas e encher as mensagens privadas dos amigos de poemas.]

1. Dimas Prychyslyy – Molly House (Hiperión, 2017)

Retomo de onde fiquei há duas semanas: quando Belcourt publicava This World Is a Wound no Canadá, em Espanha era editado, com o Prémio «València Nova», Molly House de Dimas Prychyslyy, ucraniano nascido em 1992 e exilado no país desde criança. «Molly house» é um termo dos séculos XVIII e XIX para aquilo que hoje lemos como casas de encontro para homossexuais (inicialmente relacionado com a prostituição feminina, acabou por extensão de sentido associado a homens efeminados). Dimas repesca essa ideia de espaço fechado (hortus conclusus) como um lugar seguro que tornava possível uma ação prática de igualdade no aqui e no agora [«Bebíamos en ocasiones el silencio de los cuartos oscuros, / (…) // Ahí todos éramos iguales.» (Las despedidas); «ese purgatorio de luces y rostros anónimos / se convirtió en guarida, / allí todos éramos iguales,» (Molly House)].

Digam-me vocês, mas se alguma ideia pode ter ficado da carta anterior foi um sentido de raiva [«Me abandono sin querer en tu tristeza, / en tu sucia y vertical sonrisa, / en las venas de David imposibles de tus manos, / en la rabia y la pobreza de tus dientes.» (Me abandono)], numa poesia de linguagem cruel (mesmo masoquista) e explicitamente sexual. Uma forma de vingança perante um contexto opressor e uma vida de isolamento e frustração e carência. Em Molly House também há isso: a relação difícil com a escuridão dos outros e como isso nos distrai da nossa própria escuridão [«Lo cierto es que contigo me permito / lo que jamás con nadie me había permitido: / (…) ser algo así como un hombre a la carta, / una voluntad al por mayor, / un interruptor, una vela, una llama… / con la que de vez en cuando tú ahuyentas / tu propia oscuridad / de la que yo surjo y en la que me consumo.» (Tú, la causa)].

2. Elvis Guerra – Ramonera (Letraversal, 2020; original em zapoteco de Círculo de Poesía, 2019)

Os termos que usamos para nomear dissidentes de género não são universais: a cultura zapoteca de Oaxaca, sul do México, por exemplo, tem um género a que chama «muxe». Guerra nasceu em 1993 e é muxe. Para explicar mais facilmente, poderíamos assumir que está próximo do que a América Latina entende como «travesti» (por oposição ao termo «trans» do norte global). Muxes são pessoas designadas masculinas à nascença que socialmente ocupam papéis e profissões das mulheres dessa cultura. Sexualmente há a regra que sejam a pessoa passiva da relação, mas há exceções, as ramoneras. O livro de Guerra encena este mundo numa sequência de poemas que funcionam como monólogos de muxes, os seus parceiros ou familiares [«Mi madre sabe que desde los once años / camino en tacones, / sabe que entre venganza y olvido, / prefiero un pito salado,» (Relato de una muxe’ y su madre)].

O facto de algo estar culturalmente codificado e nomeado não significa, no entanto, que seja tratado de forma justa, significa apenas que as próprias ou outras pessoas decidiram que nome dar àquilo que queriam fixar numa definição, dominar pela palavra [«ahí entendí el concepto de amor: / cuidar algo para después destruirlo.» (Árbol genealógico)]. Há até referências bastante explícitas a abusos sexuais dentro da própria família, também aqui a imagem da pessoa trans vista como objeto de violência desde pequena; ou homens que as escolhem para sexo às escondidas, mas que se envergonham em público [«aquí se compartirá la caricia, / el cuerpo será siempre / de quien lo sepa desnudar / en un taxi de vuelta a casa. / Habrá dolor, eso sí, / conmigo te dolerá la boca / y ya sabrás por qué.» (Propuesta de media noche)]. E, apesar de tudo, o sentido de humor ainda salva: «Me conformaré con tu estúpida mordida / en mi espalda a media noche. / No te pediré un segundo round / si me dices que estás agotado. / (…) / Juro que esta vez / hablo más en serio que nunca. / Si no me crees, acércate. / Verás que mi cadáver / no volverá a portarse mal.» (Canción de la sumisa).

3. Juan Gallego Benot – Oración en el huerto (Hiperión, 2020)

Prémio de Poesia «Tino Barriuso» aos 23 anos, Gallego nasceu em 1997. Oración é o que aparenta ser: vejam-se as epígrafes que misturam poetas homoeróticos com versículos. É um livro com vocabulário e imagens bíblicas reconstruídos em imagens de enorme carga erótica. Está lá tudo: a raiva e o chicote e o enxame e a carne do Antigo Testamento. Aos 23 anos, também era este tipo de poesia que eu andava a escrever. Li a Bíblia a perguntar-me como a esvaziar de todo o seu peso de objeto sagrado (se calhar lê-la já era o início), para depois encarar apenas as palavras, descontextualizadas, e perceber-lhes de forma lúdica e livre todo o seu poder erótico, como em qualquer outro texto [«Prefiero esta noche larga de mi espera / al aire que en tu cuerpo hoy / se despereza. No aspiro al mar: / tu líquido alimento me conmueve. // Tu labio mojado por el búcaro / me es bastante, la rabia aprehendida / de tus flores cubre ya todos los campos.» (II)].

Não estamos muito longe da Idade Média, quando melodias sacras eram usadas para compor poemas profanos e vice-versa. Ou de um dos meus livros preferidos, o Llibre d’Amic e Amat («Livro do amigo e do amado», já existiu em português) escrito no século XIII por Ramon Llull. Cada um destes poemas de Gallego podia ser uma oração ao sagrado. Cada um destes poemas de Gallego podia ser uma carta de amor para um homem [«Yo aquí estoy amor dormido / entre el resquício de bondad que permanece / atado entre tu vientre y la vereda.» (V); «el agua que te ofrezco está desnuda en mi garganta.» (VIII)]. Apesar de Gallego já ter publicado mais poemas depois, inclusivamente na editora Letraversal, Oración é uma pequena pérola a que volto sempre como se voltasse a algo meu. Gostava de lhe perguntar se leu um dos poetas portugueses de que vou falar na próxima carta.

XVIII (Juan Gallego Benot)

Lo que no es de mi carne
que no vuelva a mi carne.
Lo que viene de mi cuerpo
que no pertenezca a mi cuerpo.

No poseeré la tierra:
allanaré los campos y regaré
las flores de tu vientre. Veré
florecer los almendros
y pasearé en tu compañía
los caminos blancos.

Será la luz nuestro mayor orgullo;
nuestro mayor placer, su limpio recorrer
libremente el mundo. Y cuando,
viejos, contemplemos el espacio,
sabremos felizmente que no es nuestro
todo lo que en él originamos.

Fireworks (Kenneth Anger 1947).

4. Abel Azcona – Las crías cantaron al hambre (Letraversal, 2021)

Apesar de eu gostar mais da imagem que podemos criar de alguém a partir da sua poesia, mesmo sem conhecer a pessoa, parece impossível não falar da vida de A. quando todo o seu trabalho até hoje, principalmente no campo da performance, tem expiado esse passado. Nasceu em 1988 de uma gravidez indesejada: a mãe, prostituta e toxicodependente, não se sabe se violada por um cliente ou não, abandona a criança na clínica, gerida por uma comunidade religiosa. Durante a infância, Abel foi continuamente passado de família em família, continuamente abandonado, continuamente perfilhado, teve mais nomes legais do que os dedos de uma mão. A acção social falhou, a lei falhou, a igreja falhou. Como consequência direta disso, podem imaginar que a sua arte tem sido fonte de muitos escândalos, tentativas de censura e processos movidos em tribunal [«Si quieres mancillarme / muéstrate prohibido.» (LXXXIII)]. Este livro de poesia, o primeiro de três anunciados, concentra-se no periodo da infância e da adolescência, mas há uma estratégia que nos afasta do confessional: o livro é também uma homenagem (por vezes muito assumidamente um roubo) a Leopoldo María Panero (outro poeta com uma história e uma família igualmente difíceis). Por isso esta infância é a sua, mas também não é. É a do outro, ou a de um outro, através da dele.

A poesia de Azcona existe para expor essas feridas [«para qué la ternura / si solo la violencia / o la crueldad / es capaz de florecer» (XLI. Del hombre al niño)]: tem tentado, como nós, perceber como ser uma pessoa sã, um adulto, um homem [«Enamorar a hombres y mujeres / como amante feliz / que así penetra igual que el animal que desgarra / la piel de su presa.» (LXX. En la piel de su presa)], como ser um ser sexual, apesar dos abusos [«Oh, el esprema / que quiebra mi boca / y estalla / el incendio de la mesura.» (LXV. Que quiebra mi boca); «Mi sexo provoca la lluvia. / Oh, pajarillos de boca abierta, / ¡hasta la última gota!» (LXXIX)], como viver com figuras de autoridade que não respeita, depois das desilusões [«Padre que no estás en el cielo, / santificado sea tu miembro; / venga a nosotros tu cuerpo; / hágase tu voluntad / en la tierra como en mi pecho. / Dame hoy / este pan, en este día; / penetra nuestras ofrendas, / como también nosotros penetramos / a los obedientes; / déjanos caer en la tentación / y llévanos al mal. Amén.» (CIV)].

5. Pol Guasch – La parte del fuego (Ultramarinos, 2022; original em catalão de Viena Edicions, 2021)

Guasch nasceu em 1997. Em 2021, com 24 anos, publica o seu primeiro romance Napalm al cor e este livro de poesia La part del foc, que dialoga com o livro de Blanchot La part du feu de 1949. Não tenho nada a dizer sobre ele e sobre a sua visão do amor como tradução, gostava que este pequeno livro (que me comoveu imenso numa língua que leio tão mal) existisse em português (ficaria tão bem no catálogo da Sr Teste, com que estabelece tantas relações).

Queria apenas que soubessem que Guasch escreveu isto:

«Empezar a pensar en el amor abría puertas: cada espacio era importante, no había un pedazo de tierra prescindible. Me decía: el amor entre dos personas – o tres, o cuatro, o más – se adentra en el mundo para transformarlo, para negarlo. Pero: ¿por qué el acto de amar parece una pasividad que descansa al margen de la Historia? ¿Por qué el amor entre tú y yo y no esta fuerza que se mueve por dentro y sale afuera y se convierte en un lugar que los otros habitan, que los otros destrozan? Si se extinguiera el amor, ¿se acabaría con él un mundo – el mundo, el que nos hace vivir ahora?»

E isto:

«Y, más tarde, leí en otro autor: Escribir sobre uno mismo implica marcar con el lenguaje los lugares en los que la Historia nos toca. Y nos toca por todas partes. El amor me tocaba: entonces, cuando empezaba – cuando quemaba –; y, más tarde, cuando caducaba – cuando quemaba.»

E isto:

«Amar también era escribirse contra la Historia, a contrapelo: singularizarse. Empezar a escribir de outro modo y reescribir, también, la mano que te acompaña. Una nueva suavidad. Y la Historia que la mira, desde arriba. Desde abajo. Por los lados. Desintegrarse y desintegrar el entorno, con su derrumbe. Romper el espejo, este mundo nuestro que se acaba: ahora, aquí. Y el otro que le sigue. Y el que vendrá, después. Y el otro.»

6. Rodrigo García Marina – Los prodigiosos gatos monteses (Letraversal, 2023)

Preciso de transcrever textos para os ler melhor. E adoro fazê-lo, guiar e ser guiado pelo ritmo dos dedos no teclado. Digo isto porque quero que saibam que começo o García com um longo poema, o meu preferido do livro, que fiz questão de transcrever integralmente. Não pesquisei sequer online para ver se já alguém o tinha feito. Assim chega também a vocês com um bocadinho de mim:

Todas mis nociones acerca del teatro (Rodrigo García Marina)

(…)

Somos lo que comemos por eso yo soy de aire y también estoy hecho de ti.

De tu semen y tus pelos, de las caspas que bailotean sobre tus hombros, de los hombres que previamente se acostaron contigo y nunca conoceré. Estoy hecho de tus pesadillas cuando en mitad de la madrugada gritas. Yo despierto y acaricio tu lomo: el de un animal herido ¿ardido? Mientras sollozas en sueños, trato de descifrar el braille de aquello que gimes: porque gimes y también en ocasiones respiras profundo. Estamos hechos del mismo aire viciado de esta diminuta habitación.

Y estoy también hecho de tu salario cuando utilizo la luz de tu casa y cuando compartimos el mismo plato, o cuando bebo de tu copa, de la droga que consumes: soy porcentualmente colágeno. Soy de apatita porque visto con tus camisetas y utilizo tus pijamas porque estoy hecho de algunos miedos que tienen relación con tu salud y desde hace tiempo también huelo a tu perfume. A veces pienso que morirás antes y que para entonces algo de mí morirá contigo ¿el qué? Porque estoy hecho del amor que le profieres a tu gato y de tus manías y tus gustos literarios y ya no concibo un mundo en donde viva rematadamente solo. Porque estoy hecho del día en que acontezca la muerte de tu gato. Cuando decidamos meterlo dentro de una bolsa de basura. Porque estoy hecho de tu sudor y de tu relación con el trabajo y de todas las bolsas de basura que hemos llenado a la vez. Tu relación con las anémonas, con esas cuestiones que tanto te cansan. Y si he lamido tus lágrimas, yo soy parte de tu tristeza. Porque disputamos la colcha todas las noches debe ser que nuestras temperaturas en algún momento de la vida han coincidido tal y como las estrellas y los cometas coinciden cada no sé cuántos años. Es la devoción tan milagrosa… ¡es un eclipse! Y yo eclipso: yo colapso cuando pienso que juntos conoceremos el mar y por eso somos la misma estatua salina que pierde el nombre en la boca de las historias aburridas.

Somos lo que comemos y siempre comemos lo mismo. Y somos lo que advertimos y por aquello por lo que cedemos. Entonces algún día serás de calabaza dulce y yo seré una persona que entienda tus gritos. Olvidarás los ansiolíticos robados de la farmacia. Porque somos lo que abandonamos a veces temo que arrojes mutiladas mis extremidades en el arcén de una autovía. A veces deseo que arrojes mutilados mis genitales a un contenedor de vidrio esmerilado. Somos todos los litros de vino que hemos bebido juntos. Y en algún momento llegaremos a ser el mismo compost o la misma ceniza que ningún hijo podrá arrojar porque somos la misma mula estéril que vierte su deseo sobre una tinaja vacía. Porque portamos los mismos órganos reproductivos, las mismas referencias bibliográficas.

Eres las palabras que utilizo para hacerte reír: cuando te digo que nos apareamos, o también nuestros besos con nombres secretos: los besos aplastones, los besos de paloma, los besos de alimaña que necesitabas conocer y que llevaba tanto tiempo guardando en un marsupio. Soy buena parte de las cosas que te duelen. Por eso si quisiera podría hacerte retorcer de dolor, como una isquemia intestinal cuyos síntomas son desorbitados frente a sus hallazgos clínicos. Nunca deberíamos ser cínicos. Siglos después sigo tocando tu cara para encontrarme con lo fortuito porque todo lo fortuito es nuevo y a tu lado yo soy un hombre nuevo.

Porque somos lo que comemos, mío es el nombre de las flores y tuyas son mis mejillas. Porque comería tierra para decirte que soy lo prohibido. Para que te atragantaras con lo prohibido. Y siguieras corrigiendo mis manuscritos. Y siguieras apareciendo entre mis manuscritos. Nosotros que hemos devorado decenios de técnica y metodología y que ahora tan solo celebramos. Porque celebramos que el teatro sea tan solo celebración. Y creo que nos queremos un poquito. Nomás.

Fireworks (Kenneth Anger 1947).

García nasceu em 1996, tem 27 anos (já perceberam, não já?). Descreve-se como alguém com formação biossanitária, musical e filosófica e isso diz muito sobre ele; hoje faz também performance e é importante referi-lo: García sabe que tem corpo, quer descobrir-lhe os limites, consumir tudo [«una religión muda de manos que / tocan lo prohibido / porque él es lo prohibido porque / estamos cerca a todas horas de lo prohibido.» (Toque de keta); «¿Por qué todo lo que deseo conocer está prohibido?» (Loukanikos: ¡Oído, cocina! Monólogo para un actor enamorado)].

Los prodigiosos gatos monteses é a sua versão de um «livro sobre a pandemia», mas fugindo o mais possível, através de uma construção polifónica, a um mero diário dos seus confinamentos [«En mi historia de amor apocalíptico / tan solo la generosidad vence.» (Poema para pasar la cuarentena acompañado o por qué el amor es la peor de todas las pandemias)]. Os recolheres obrigatórios estão lá, as máscaras, o pânico de se esgotarem produtos no supermercado ou de faltar água e energia [«Hoy anunciaron que por primera vez en la vida / el agua cotiza en bolsa / y pienso que si al Lemi le faltara el agua / sería tan bochornosa la sed / en sus labios abiertos como una Biblia / en sus manos abiertas como una Biblia / en su abdomen abierto como una Biblia / sería tan bochornoso el deseo que / ojalá cogiera el puñal y lo hiciera por mí.» (Loukanikos)], o fim do teatro, o medo do contágio e do sexo (que faz renascer velhos fantasmas, de clero e pedofilia). Mas tudo pelo ponto de vista dos outros: os que vivem à noite, os boémios, os drogados [«Un daddy me pide que tome prep / y que consuma un cóctel ghb+keta+tina / para violarme con sus colegas toda la noche // ¿de quiénes son nuestros sueldos / y en qué los disfrutan? / ¿o por qué no existen suficientes casas? // ¿De quiénes son nuestros cuerpos / y por qué los disfrutan?» (Toque de keta)], os kinksters, os cruisers [«el silencio de las calles / el miedo a la policía / la policía rondando la zona cruising / los solos sin sexo de solos / la policía rondando / el miedo a la policía / el deseo sin ganas de nada / la vecina sin pan y sin periódico pidiendo ayuda» (Los gestos quietos)].

Entre gatos reais e metafóricos, lá está de novo o amor, o amor dos feios, o amor dos porcos, o amor dos maus, que também o merecem [«para amar es necesario ahorrarse el olor / o cuidar el olor / para amar es necesario algo más que la belleza / la belleza puede diluirse como el ácido / pero el olor… Respondemos ante el olor como quien responde ante la vida.»; «Es bonito ver que algunas personas han venido al mundo para consumirse igual que las velas con olor a eucalipto que venden en el Zara Home.» (Loukanikos)]. Foi neste livro tão diverso (que não sei ainda se é um só livro de poesia, ou só de poesia) que descobri a pergunta que poderia não resumir mas orientar a imaginação coletiva de todas estas poéticas, assim como as inglesas da minha última carta. Não é poesia que pergunte quais os limites da sua expressão, até onde podemos ir, o que podemos representar: é poesia que o faz, arrasando logo tudo à sua frente. «¿Es la venganza un género literario?».

Subscrevam e recebam a nossa newsletter todas as sextas-feiras.