Do Artifício


É de artifício, este fogo,
esta cidade. Alguns lhe
chamariam poema,
princípio ou promessa,
mas a sua técnica é a de
ser isso tudo e não ser
nada afinal. É que o
fogo queima, como a
solidão. Não a das
cidades, habitadas pela
sua desumanidade
apinhada, mas a da
distância. Infatigáveis,
os passos de quem as
pensa. O que se aplaude
no fim, se nada se vê?
As palavras, soltas no ar
a grande velocidade,
trovões que
resplandecem na noite
escura como estrelas
indicando um desfecho.

Por ora, a névoa, como
artifício, velada,
anuncia um começo
possível, o caminho.
Ricardo Marques