O Homem Que Dorme


E se uma avenida fosse um lago
comprido e a água passasse por
uma turbina e decidisse afundar
a cidade até só o castelo ser visto
dentro de um barco.

Não há tempo
para os vinhos nascerem.

Os dias passam num instante como
o reflexo de um farol num espelho.
O azedo das ruas transforma-se
num cenário que só um jornal
impresso pode descrever.

Um homem anda com embrulhos
de plástico. Toda a gente sabe que
dorme na soleira de uma empresa
de candeeiros. É uma sombra,
um rasto.

Mas ninguém se aperceberá
da sua morte.


Jaime Rocha