Climáximo participa no “GentrificaTour”, uma jornada pelo bairro de Alfama em Lisboa.


O Climáximo foi convidado a participar do segundo dia do evento “Un-schooling the summer: Walking the line of environmental injustice in Alentejo”, organizado pela Oficina de Ecologia e Sociedade (ECOSOC) da Universidade de Coimbra. O evento ocorreu em Lisboa na segunda-feira, 17 de julho, e o passeio começou num dos bairros mais emblemáticos da cidade, “Alfama”.

Os porta-vozes do coletivo HABITA, juntamente com outros atores sociais, foram responsáveis por criar a ferramenta GentrificaTour, com o objetivo de alertar sobre os efeitos da má gestão e de más políticas públicas, que em cooperação com empresas imobiliárias e turismo desregulado resultaram numa crise habitacional que, por sua vez, agravou a desigualdade social e territorial. Este bairro foi escolhido como ponto de partida, pois é possível ver em primeira mão as transformações pelas quais ele passou devido ao boom do turismo em Portugal, juntamente com outros fenómenos socio-espaciais e socio-económicos que afetaram a população local. Dentro dessa lógica, o problema da gentrificação e despejos tornou-se relevante, pois, segundo os ativistas do coletivo HABITA, as pessoas são obrigadas a deixar suas casas devido ao aumento das rendas e serviços, bem como ao assédio de empresas que buscam apropriação dos imóveis para fins comerciais. Enquanto em 2011, aproximadamente 10.000 pessoas moravam em Alfama, hoje, após o boom de plataformas como o Airbnb, apenas 3.000 pessoas vivem lá, e constantemente são vítimas de “bullying imobiliário”.

A liberalização do mercado de arrendamento, que começou a ganhar força em 2012, juntamente com a forte retórica dos benefícios do turismo, reforçou a estrutura da propriedade privada desvinculada das necessidades das pessoas em favor de uma economia de mercado. Essas decisões, tomadas “de cima para baixo” têm como objetivo a comercialização da marca de Lisboa e a transformação de bairros como Alfama em lojas turísticas. Os problemas de justiça ambiental são evidentes ao falar sobre o turismo em massa, e um exemplo disso é o enorme número de navios de cruzeiro que atracam diariamente nos portos, cujo impacto tem sido constantemente ignorado.

O passeio continuou até a Quinta do Ferro, um bairro no centro histórico da cidade que historicamente foi marginalizado, carecendo de condições habitacionais decentes e estigmatizado por atividades ilegais que ocorreram lá. Mesmo hoje em dia, os seus habitantes ainda lutam pela reabilitação de espaços públicos, pelo direito a serviços de qualidade e por uma vida digna a partir de uma perspectiva comunitária, em vez de uma abordagem comercial. Nesse sentido, ficou evidente como a segregação socio-espacial e a pobreza energética se cruzam e coexistem com a discriminação baseada em raça, género, classe, origem e identidade.

Continuando o passeio, chegamos ao espaço associativo da Sirigaita para uma sessão plenária, onde os participantes partilharam as suas reflexões. Num diálogo coletivo, foram identificados problemas e imaginadas missões partilhadas. A diversidade dos participantes enriqueceu as ideias com os contextos e experiências das lutas locais. Um dos pontos mais importantes foi a urgência de devolver a função social à habitação, e para isso é necessário abordar o problema habitacional como um problema real que já tem efeitos negativos na vida dos habitantes da cidade, exigindo que as políticas públicas priorizem as necessidades do povo, onde eles se tornem os principais atores em vez dos interesses do grande capital. Da mesma forma, organizações da sociedade civil, associações de bairro, etc., devem participar através de mecanismos democráticos reais para construir coletivamente planos de ação a partir de uma perspectiva social e exigir que o Estado garanta o cumprimento de seus direitos.