SOBRE UM PROJETO DE ORGANIZAÇÃO ANARQUISTA – Luigi Fabbri


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Il Martello, 17/24 de setembro de 19271

Considerações Gerais

Foi com um vivíssimo senso de simpatia que eu li o projeto de “Plataforma Organizacional” anarquista que um grupo de camaradas russos publicou no ano passado em Paris e que tem sido a causa de uma polêmica acalorada recentemente entre anarquistas de vários países. Minha primeira impressão foi que de eu não descordava em muitos pontos, na verdade eu achei que o projeto continha muitas verdades indiscutíveis e dolorosas. O projeto inteiro respira um desejo tão ardente de fazer algo, de trabalhar pelo bem da causa, que chega a ser bastante sedutor.

Tudo isto não constitui certamente pouco mérito para os autores da “Plataforma”: cujo grande valor provém de outra razão: que coloca no terreno da discussão uma quantidade de problemas inerentes ao movimento anarquista, ao lugar dos anarquistas na revolução, à organização anarquista na luta e por aí vai, que devem ser resolvidos, do contrário a doutrina anarquista não continuará a fornecer respostas às crescentes necessidades da luta e vida social do mundo contemporâneo.

Apesar dessas observações favoráveis, contudo, e a menos que eu esteja muito enganado, eu não penso que o projeto proposto pelos companheiros russos possa ser aceito por qualquer organização anarquista de qualquer importância, já que, na minha opinião, ele contém erros que têm pouca importância se permanecerem no domínio da opinião pessoal, e discutível, de qualquer companheiro, e porque pode se converter em motivo de sérios desvios para o movimento anarquista se forem trazidos para a organização e assumirem um valor programático.

Enquanto base programática de uma organização, a “Plataforma” é ideológica demais e pouco prática. Numa quantidade de problemas – como a luta de classe, a democracia, o Estado, o período transitório revolucionário, o sindicalismo etc.- se estabelecem pontos de vista axiomáticos, alguns corretos, outros errados, mas sobre os quais pode-se dizer que a opinião varia de companheiro para companheiro; sobre o qual um julgamento unânime ou até apenas amplo é quase impossível, mas é também inútil para os efeitos práticos da organização. O importante é o objetivo concreto e positivo do anarquismo que se deve ser alcançado; o importante é aquilo que se tem que fazer e se quer alcançar, no terreno dos fatos, independentemente das doutrinas e das ideologias com que se pode justificar ou valorizar as próprias ações. Pois bem, na “Plataforma” me parece que se concede tão pouco espaço a esta parte realista e voluntarista, assim como um projeto programático.

Mas eu não quero me prolongar demais numa crítica à “Plataforma” enquanto base programática duma organização. Acredito que os próprios proponentes não insistem e estão dispostos a deixar isso de lado para buscar uma base mais concreta e mais capaz de unir. Entre outras coisas, efetivamente, a “Plataforma” tenderia consequentemente a deixar de fora da organização anarquista não apenas os individualistas e antiorganizacionistas, que não poderiam aderir devido à contradição que não o permite, mas também não poucos anarquistas-comunistas e organizacionistas, incluído alguém, como eu, que por muitos anos estou apoiando a necessidade duma organização anarquista e tentando o experimento.

Há muita coisa na “Plataforma” que eu acho boa e que aprovo por completo, sobretudo como procura demonstrar a necessidade da organização anarquista e a necessidade de abandonar este terreno vago e indeterminado para realizar a organização concreta, permanente e de amplo alcance na maior escala possível. Corretas, também, são as muitas críticas do nosso movimento no passado e no presente e as diversas observações penosas. Da mesma maneira a apresentação importante de alguns dos problemas da organização anarquista aqui e agora. Sobre esta parte, dado que há acordo, não há porque insistir. Nem pretendo lidar com certos aspectos da “Plataforma” com os quais eu pessoalmente concordo, mas com os quais muitos camaradas discordam, porquanto não são essenciais para o movimento prático do anarquismo.

Eu vou, entretanto, apenas examinar aquelas partes da “Plataforma” que me parecem estar erradas ou que eu acredito conter as sementes do erro. A minha abordagem será considerá-la, não como uma simples exposição de ideias, pessoais ou dum grupo, como se eu estivesse simplesmente lidando com um dos nossos muitos panfletos referentes à teoria ou propaganda.

Unidade e Variedade

O ponto de partida da “Plataforma” conforme exposto na introdução do camarada Arshinov, é sólido. Ele estabelece que o movimento anarquista se devastou a si mesmo e se esterilizou para a maioria pela “febre amarela da desorganização”. A experiência durante a Revolução Russa foi decisiva, deste ponto de vista.

Um amigo nosso, italiano, que viveu durante algum tempo na Alemanha e na Rússia imediatamente após o período revolucionário2, estava me contando que é impossível continuar sendo antiorganizacionista e individualista depois de ter experienciado os fatos nesses lugares. Ele, ele mesmo, que já pertenceu à corrente individualista do anarquismo, se tornou pessoalmente convencido disto.

Efetivamente, Arshinov observa que “durante a Revolução Russa o movimento libertário demonstrou uma certa confusão e fracionamento das suas forças; Isto é o que se supõe ter conduzido algumas militantes anarquistas para os braços dos bolcheviques. E é a mesma razão que causou uma certa passividade entre alguns outros…”3. A conclusão, entretanto, da necessidade duma organização anarquista é plenamente justificada e inteiramente certa.

Apesar disso, poder-se-ia observar na introdução que o espírito que impregna a “Plataforma” contém um exclusivismo excessivo, tendendo a colocar para fora do movimento anarquista todas as correntes não apenas práticas mas ideológicas que não concordam com ela. Há reivindicações, também, que merecem um desenvolvimento maior, pois como estão passam uma impressão desfavorável, como por exemplo, quando demanda uma “unidade rígida” do partido, uma unidade ideológica e “estratégica”. É verdade que, entre outras coisas, o método anarcossindicalista não resolve a questão da organização anarquista, e eu também sou contrário à palavra e ao conceito pretendido pelo termo “anarcossindicalismo”, que ainda é difundido na Rússia, na Alemanha e, embora um pouco diverso, na América do Sul. Se não estou enganado, excluir esta corrente do anarquismo duma organização geral anarquista seria um erro grave: resultaria em transformá-lo num movimento alheio e adversário, quando na verdade é uma corrente interna que pode facilmente coexistir com a nossa, que prefere chamar a si mesmo simplesmente de “anarquista”.

Nós constatamos isto na Itália nos meados de 1919-20 e no seio da Unione Anarchica Italiana, onde os elementos anarquistas tendendo para o sindicalismo estavam perfeitamente em casa e cooperavam ativa e proficuamente no movimento da Unione como um todo, apesar do dissenso sobre algumas questões particulares referentes à ação sindical e ao lugar designado a esta no movimento geral. No congresso e na imprensa aconteceram muitas discussões a respeito; mas ao final sempre se encontrava um ponto de consenso para continuar a lutar juntos dentro dos quadros da mesma organização.

Assim, é bem verdadeiro que não é possível viver praticamente na mesma organização com os individualistas, que se encontram mais distantes de nós do que os anarcossindicalistas; mas não é por isso que a ideologia individualista deve ser completamente descartada. Pelo contrário, alguns princípios referentes às demandas pelos direitos individuais, a autonomia do indivíduo e do grupo, são mantidos em comum conosco, os organizacionistas, e não reconhecer isto seria um princípio de desvio. Assim, ao afirmar a necessidade de organização e ser, na realidade, separado de todos aqueles que recusam uma organização geral e permanente, considerando este anarquismo ser de alguma forma defeituoso do ponto de vista dos princípios, nós devemos nos guardar contra nos deixarmos julgar seus proponentes como não-anarquistas, nem deveria isto nos parar (quando a ocasião se apresenta) da possível solidariedade e cooperação recíprocas com eles.

Eu não conheço bem o programa desse grupo de companheiros russos que nos fala sobre uma “síntese” anarquista. Mas se o seu conceito é que o anarquismo será, de certo modo, também individualista e sindicalista, não num sentido doutrinário exclusivista, mas no sentido prático de que os anarquistas acreditam ser útil a ação sindical e necessária a defesa da liberdade do indivíduo a fim de obter a máxima autonomia possível em harmonia com a liberdade de todos os outros indivíduos, tal conceito me parece muito correto e bastante próximo ao nosso, malgradas as formulações equivocadas.

Quando nós falamos sobre uma “União Anarquista Geral” certamente não devemos temer as palavras; mas sim as ideias que elas expressam, as quais não nos parecem ser boas. Com a condição, porém, de que não se pode esperar que uma organização que deu a si mesma tal nome possa representar a “generalidade” total dos anarquistas e excluir de sua generalidade aqueles que não pertencem à organização, o que na realidade seria sempre “particular” e não geral.

Nós, que queremos organizar pela propaganda e pela luta tantos anarquistas quanto for possível, que concordam sobre fins determinados e determinadas formas de ação, devemos nos distanciar do perigo de tomar a nossa “parte” como sendo o todo; de atuar injustamente para outros que não concordam conosco e de imaginar que nós – que somos apenas uma parte, não obstante a maior parte do anarquismo- representamos a totalidade do anarquismo. Nós devemos evitar este erro exclusivista que tem afligido os partidos socialistas e revolucionários autoritários que, uma vez que eles estabeleceram um programa e sua própria organização, dogmatizaram que sem eles não há salvação, vale dizer, que não há outro socialismo ou revolucionarismo possíveis.

Se houvesse apenas um anarquista dissidente da nossa organização, logo ela não poderia representar todos os anarquistas. Em qualquer medida que possa ser de pouca importância, é uma questão de princípio que nós anarquistas não deveríamos esquecer, nós que não acreditamos em nenhuma virtude intrínseca da maioria ou da minoria simplesmente pelo que são ou negamos qualquer direito subordinar aos seus próprios fins a vontade de todos aqueles, sejam poucos ou muitos, que não concordam.

Alguns erros: organizações operárias e grupos anarquistas

Uma parte errônea da “Plataforma” me parece ser aquela que faz da “luta de classe” quase a característica principal do anarquismo, reduzindo aos mínimos termos o seu significado humano e o seu objetivo humanitário.

Com a expressão “luta de classe” se compreende um núcleo de teorias que podem até ser aprovadas por anarquistas, mas que não são necessariamente anarquistas. Elas são, na verdade, comum a algumas outras escolas do socialismo, em particular ao marxismo e ao bolchevismo. Não é o momento de discutir se é verdadeiro ou não que a história humana é determinada pela luta de classe: é uma questão científica ou uma questão referente à filosofia da história que não interfere excessivamente no anarquismo, o qual seguiria o seu caminho, fosse aquela teoria correta ou falsa. A principal característica do anarquismo é a recusa de toda autoridade imposta, de todo governo; é a afirmação da vida individual e social organizada sobre bases libertárias.

Mas o anarquismo é acima de tudo humano, na medida em que procura realizar com a destruição das divisões de classe e casta (segundo a expressão do Bakunin) a Humanidade, e performá-la tanto individual quanto socialmente. A luta de classe é um fato que não pode ser negado nem por anarquistas nem por qualquer um que tenha um cabeça sobre os ombros e, nesta luta, os anarquistas estarão lado a lado com as classes oprimidas e exploradas contra as classes dominante e exploradora. Por esta razão, a luta de classe operária contra o capitalismo corresponde aos métodos e formas de ação revolucionária do anarquismo, tendo como objetivo a expropriação da classe capitalista, e a expropriação deve ser feita para o benefício de todos os homens, de modo que alguns deixem de ser explorados, e outros, exploradores, e que todos estejam de acordo voluntariamente em produzir e consumir juntos segundo as próprias necessidades o fruto do trabalho comum.

A esse respeito, poder-se-ia argumentar que os anarquistas são “contra a luta de classe”, já que trazem para esta luta dos trabalhadores contra o capitalismo o objetivo de pôr fim à luta de classe para substituí-la com a cooperação humana. É melhor, também, não atravancar a nossa propaganda com fórmulas que podem levar a mal entendidos e que poderiam, dado o uso feito delas atualmente, ser interpretadas num sentido que é contrário ao anarquismo.4

Historicamente falando, me parece inexato falar de anarquismo como um “ideal de classe”. A classe operária, mais do que ninguém, tem todo interesse no triunfo da liberdade no sentido anarquista e, consequentemente, nós anarquistas nos direcionamos especialmente aos nossos irmãos operários, entre os quais sabemos que podemos encontrar os mais camaradas. De fato, muitos anarquistas, podemos até mesmo dizer quase todos os anarquistas, são eles próprios operários. Mas nem mesmo isto significa que o objetivo do anarquismo é exclusivamente obreirista, ou que o triunfo da classe operária conduziria necessariamente à Anarquia. Fazemos bem em nos persuadirmos que, a menos que eu esteja errado, há entre o proletariado até uma parte minúscula e insalubre que é presa de modos arrogante, autoritário ou servil tais como os que podem ser encontrados entre a burguesia. A menos que a nossa vontade anarquista seja capaz de preveni-la, a vitória desses elementos poderia terminar em novas formas de dominação que não seriam de forma alguma desejáveis. O exemplo da Rússia pode nos ensinar algo.

O anarquismo é, pois, uma ideia humana, e é a ideia de todos aqueles, sem exceção, que querem destruir toda forma de autoridade violenta e coerciva de um homem sobre outro. Ao subordinar esta ideia a qualquer viés de classe, seja ele o da velha burguesia ou o mais recente operaísta – nós iríamos diminuí-la e, na verdade, preparar o caminho para uma psicologia perigosa que facilitaria a formação (através da revolução) duma nova dominação de classe.

As massas operárias, a vasta maioria daqueles que não são anarquistas, contêm diversas tendências, algumas boas e outras más, algumas autoritárias e outras libertárias, alguns servis e outros rebeldes. Elas não constituem em si mesmas uma força criativa em qualquer sentido determinado, muito menos libertário. Isso eles podem ser na medida em que os indivíduos que formam as massas podem conscientemente se tornar anarquistas e a propaganda anarquista pode se desenvolver neles e aumentar as suas tendências libertárias, combatendo e enfraquecendo as outras tendências. Portanto, as massas são “forças criadoras e libertadoras” na medida em que elas são anarquistas e na medida em que são anarquistas e não porque elas são operárias.

Entre anarquistas pode haver opiniões que diferem sobre isso – isto é natural-, mas como nós estamos lidando com um juízo teórico e histórico discutível, é perfeitamente inútil dogmatizá-lo de um jeito ou de outro. No que diz respeito aos efeitos da luta anarquistas e seus resultados, basta dizer que os anarquistas participam no combate das classes exploradas ao capitalismo, pela demolição do seu poder e pela sua completa expropriação. Nisso tudo eu concordo, sem distinção. Qualquer outra coisa pode ser discutida, mas não façamos dela a causa duma cisão real no partido.

O que de fato não entendi na “Plataforma” é o fato das relações entre o movimento anarquista e o movimento operário, entre a organização anarquista com base nas ideias e a organização trabalhadora com base nos interesses econômicos.

Uma certa organização anarquista das massas, é dito, deve ser efetuada e, para que isto ocorra, é necessário haver, de um lado, um grupo seleto de operários e camponeses revolucionários com base nas ideias anarquistas, e, por outro lado um agrupamento de operários e camponeses revolucionários com base na produção e consumo, isto também, no entanto, “imbuído de ideologia anarquista revolucionária”. Mas isto não significa uma duplicação inútil?

Ou se defende uma organização trabalhadora aberta a todos os operários e, portanto, não tendo um programa ideológico particular, dentro do qual os anarquistas levam a cabo as ua função como animadores e força condutora (no sentido libertário) dos operários com o objetivo de torná-los cada vez mais libertários e revolucionários mas sem esperar que adotem o nosso credo oficialmente e a priori. Neste caso, há espaço para um movimento específico de anarquistas ao lado dele. Ou, para seguir o exemplo dos anarquistas na república argentina e dos anarcossindicalistas na Alemanha e na Rússia, todas as funções do movimento e da propaganda anarquista repousam dentro da organização trabalhadora que tenha um programa, táticas e ideologia anarquista. Neste caso, a existência de agrupamentos anarquistas específicos seria uma duplicação sem sentido com nenhuma missão precisa.

O fato de que aqui e lá na “Plataforma” se fala sobre uma “situação dirigente” ou uma “função dirigente” dos anarquistas no seio do movimento proletário poderia ser interpretado como algo mais: vale dizer que os anarquistas devem de alguma construir, de certo modo, um tipo de casta dirigente que permaneceria mais ou menos encapsulada sobre o movimento operário de maneira similar aos partidos social-democratas da Europa Ocidental e da América ou ao partido bolchevique na Rússia. Isto, na minha opinião, seria outra coisa que constituiria um desvio do anarquismo, embora possa parecer beneficiar o partido anarquista. Noutras palavras, seria um tipo mais ou menos escondido de ditadura anarquista sobre o proletariado não-anarquista ou apenas tendencialmente libertário.

Uma verdadeira contradição em termos.

É verdade que os autores da “Plataforma” dizem que esta direção se exercitaria exclusivamente com a influência das ideias. Mas, para exercer esta influência, não há necessidade para uma terceira concepção da relação entre anarquismo e proletariado militante. As duas concepções especificadas acima permitem isso e tornam possível no mesmo grau. A concepção proposta pela “Plataforma” não acrescentaria nada – e seria de fato um erro; alguém deve pensar que a liderança espiritual poderia ser interpretada como e poderia tomar a forma duma liderança factual que se atreveria a tentar uma divisão antianarquista entre os elementos liderantes que se encontram na minoria e a massa liderada que se encontra na maioria. As massas teriam todo o direito de estar cautelosas, apesar das negativas daqueles que desejam atuar como dirigentes, quase como seu “estado maior”.

Não é possível explicar de qualquer outra maneira a diferença que a “Plataforma” estabelece entre a organização de massa imbuída com ideologia anarquista e a organização anarquista propriamente dita. Diferença que no ato prático não poderia ser quantificada, como nada pode estabelecer o grau em que a primeira é anarquista em comparação com a última, nem sancionar a legitimidade da “direção” ou a superioridade da última sobre a primeira.

Pode ser que a intenção dos autores da “Plataforma” não seja essa expressada acima. Pode ser que às vezes, eu repito, eu não entendido completamente o que os autores estavam pensando. A língua costuma dar ao leitor esta impressão. E, por outro lado, se excluirmos o sentido supracitado, a sua concepção não tem nada de original e felizmente caberia naquela dos apoiadores duma organização trabalhadora que é aberta a todos, bem como naquela dos anarcossindicalistas, mas mais próxima da primeira do que da última.

Uma boa quantidade do mal-entendido e má interpretação repousa na adoção da fraseologia “luta de classes” e “sindicalismo” que os autores da “Plataforma” não conseguem colocar de lado, embora sejam um tanto imperfeitos e confusos.

Eu já falei sobre luta de classe. Quanto ao sindicalismo, embora não eles não deem a esta palavra nada além do significado de movimento operário revolucionário de luta de classes, onde as várias formas da luta revolucionária se concentram, é impossível (se eu não estiver enganado) fazer abstrações sobre tudo que esta palavra significou ao longo dos últimos 25 anos, especialmente na Itália: do sindicalismo reformista ao fascista, através de todos os desvios e erros do próprio sindicalismo revolucionário teórico ou prático. E isto não apenas na Itália…

Tradução: Inaê Diana Ashokasundari Shravya

Original: Su un progetto di organizzazione anarchica

[Disponível online em: https://www.nestormakhno.info/italian/fabbri.htm%5D

Notas

1 Artigo originalmente publicado no “Il Martello” de Nova Iorque, nos dias 17 e 24 de setembro de 1927, e contido em “Plataforma organizzativa dei comunisti-anarchici” e debatido na época na série “storia-documenti” da Organizzacione Rivoluzionaria Anarchica, Bari, 1977 [Nota do Site].

2Seria sobre Ugo Fedeli [Nota do Site].

3Conforme a introdução da “Plataforma organizacional da União Geral dos Anarquistas” [Nota do Site].

4Fabbri se refere à proposição, fortemente presente na filosofia do Bakunin, de que não importa quem ocupa determinada posição, mas sim a própria existência de tal posição. Assim, só há rei, por exemplo, por haver uma posição “rei” e uma posição de “súdito”, que lhe constitui enquanto seu Outro. Não há, portanto, um indivíduo que seja pertencente substancialmente a uma determinada classe, mas que nela é posicionado devido à existência dum modo de produção que estabelece determinadas posições e que nelas nos posiciona, quer dizer, nos produz nos posicionando. Considerando desta forma, pode-se sugerir que a política precede o ser. A ideologia serve para naturalizar tal sistema de posições sociais.[N.T.]

Publicado em agosto de 2023