11,61 – André Ferreira


No segundo dia deste ano (2023), o craque Cristiano Ronaldo e a sua família, voaram no seu jato
pessoal em direção a Riade, na Arábia Saudita, desde Turim, em Itália.
Ronaldo abraçou um novo desafio no clube Al Nassr, e é natural que se tenha de deslocar para o
país a qual pertence este clube, tal e qual como qualquer migrante quando se direcciona para o local
onde irá trabalhar.
Mas há uma pequena – grande – diferença:
O comum trabalhador migrante não viaja no seu jato privado, com máximo conforto, em direção ao
seu destino. Não. Os migrantes comuns, vários deles com trabalhos precários, no máximo viajariam
num jato comercial. Mas não é normal viajar de avião, e muito menos quando saímos da bolha do
privilégio do continente europeu, do Norte Global em geral, ou das novas elites em todo o mundo. E
isso sem sequer pensando nos milhares de migrantes que perdem a vida anualmente em direção ao
seu “novo desafio” no cemitério marítimo que é o Mar Mediterrâneo. Aqui está a diferença.
O problema é que a aviação em si é um meio de transporte elitista e altamente poluente, sendo
menos de 10% da população mundial usa o avião num determinado ano. E mais, os jatos privados
são usados por uma elite ainda mais restrita, sendo um meio de transporte que demonstra os
extremos da injustiça social, e têm emissões por passageiro-km ainda maiores que um jato
comercial. Um passeio destes emite entre 5 e 14 vezes mais do que uma viagem num jato comercial
e cinquenta vezes mais do que uma viagem de comboio.
Assim, se toda a população mundial fizesse viagens como a do Cristiano Ronaldo, esgotar-se-ia de
imediato o orçamento de carbono para mantermos a temperatura global abaixo de 1,5ºC.
O número que dá o título a este comunicado não é aleatório. É a quantidade de carbono, em
toneladas, que o voo do Cristiano emitiu nesta viagem (valores obtidos no sítio
compareprivateplanes para um Gulfstream G200, com partida de Turim e chegada a Riade). Uma de
muitas por ano.
Em média, o habitante deste planeta emite cerca de 4,79 toneladas de CO2 num ano inteiro (dados
obtidos no sítio worldometers), o que ainda é demais e se deve sobretudo às emissões das elites
globais.
A elite mundial é a principal responsável pelo aquecimento global e pelas muitas mortes anuais que
já estão a acontecer na consequência da crise climática em curso. Os luxos e conforto elitistas não
são apenas injustificáveis, mas representam um crime ignorado. Assim têm de ser banidos
rapidamente a começar pela proliferação de voos supérfluos em jatos privados.
A campanha ATERRA, que luta há vários anos pelo decrescimento da aviação e por uma
mobilidade justa e ecológica, está a preparar-se neste preciso momento para combater este flagelo.
Todas as pessoas interessadas em juntar-se a esta missão são bem-vindas.
Continuamos em luta,
André Ferreira, ativista da ATERRA

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